Uma médica de 29 anos, que prefere não ser identificada, foi
agredida com soco no rosto por uma paciente no último sábado, dia 14 de
junho, dentro da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) das Moreninhas, em
Campo Grande. A violência aconteceu após a profissional informar que exames
laboratoriais de rotina não são realizados naquele tipo de unidade, mas em
UBSFs (Unidades Básicas de Saúde da Família).
Conforme a médica, a paciente solicitou os exames alegando que
não os fazia há muito tempo. Ao receber a explicação de que esses procedimentos
são realizados apenas na atenção primária, a mulher começou a gritar, proferir
xingamentos e ameaças.
“Ela me chamou de psicopata, disse que queria quebrar o
computador na minha cabeça, falou que pagava meu salário e que eu era obrigada
a fazer o que ela queria”, relatou a profissional. Ainda segundo ela, a
paciente continuou usando palavras de baixo calão, mesmo após a tentativa da
própria mãe de acalmá-la. A mãe dela pediu para que eu deixasse os exames de
lado e apenas receitasse a medicação para a queixa atual.
A médica então se retirou da sala e comunicou o ocorrido à
assistente social da unidade e ao regulador de fluxo, solicitando que outro
profissional assumisse o atendimento. No retorno à sala para informar que a
paciente seria chamada novamente, ela foi surpreendida pela agressão.
Ela disse ah, você não vai me atender? e, quando me sentei na
cadeira, levantou e me deu um soco no rosto. A mãe segurou ela, que ainda
tentou me bater mais vezes. Consegui sair pela porta de emergência e chamei os
guardas da unidade, contou.
Após o episódio, a médica precisou interromper o plantão noturno
e foi à delegacia para registrar o boletim de ocorrência. O caso mobilizou o
SinMed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), que prestou apoio à
profissional e denunciou a insegurança enfrentada por médicos em unidades de
saúde da Capital.
Agressões em alta - O presidente do sindicato, Marcelo Santana
Silveira, lamentou o ocorrido e afirmou que a situação revela o risco constante
enfrentado pelos profissionais da saúde. “A agressão é um crime grave. A médica
ficou abalada e com medo. Isso mostra que a prefeitura não está garantindo a
segurança dos profissionais, o que nos preocupa muito. Não podemos esperar que
aconteça algo ainda pior.”
Ele também alertou para o número crescente de agressões verbais
e físicas que, muitas vezes, sequer são registradas. “Orientamos que todo
profissional que for vítima de qualquer tipo de violência vá até uma delegacia
e acione o sindicato. Só assim conseguiremos agir e pressionar por medidas de
proteção.”
Dados divulgados pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) apontam
que, na última década, mais de 40 mil boletins de ocorrência foram registrados
no Brasil por atos de violência contra médicos. Em Mato Grosso do Sul, somente
em 2024, já são 134 registros. O número coloca o Estado na 10ª posição nacional
em ocorrências do tipo.
A Secretaria Municipal de Saúde informa que após o episódio, a
equipe da unidade esteve na delegacia para registrar boletim de ocorrência e,
conforme a política da pasta, a servidora é acolhida e passa por escuta com
profissionais especializados, como psicólogos e psiquiatras, sobre a agressão
sofrida, para que essa seja assistida adequadamente.
A reportagem também tentou contato com a paciente envolvida na
agressão para obter sua versão dos fatos, mas não conseguiu.